Os peixes recifais são os peixes que vivem entre os recifes, sejam eles compostos por corais ou não. Aqui no Brasil temos uma dominância dos chamados recifes rochosos, que são compostos pelos sedimentos consolidados da área submersa de costões rochosos, com colônias de corais espaçadas entre si. O grupo dos peixes recifais é muito importante para esse ambiente, sendo que apresentam uma grande diversidade de nichos ecológicos.
A diferente forma de se alimentar desses peixes nos dá exemplos interessantes sobre a sua importância. Podemos dividir os peixes recifais em três categorias básicas herbívoros, carnívoros ou onívoros. Porém, a forma e o local que esses peixes se alimentam difere muito! A donzelinha (Stegastes fuscus), por exemplo, “cultiva” o seu jardim de algas e o defende de invasores, sejam eles outros peixes recifais, invertebrados e até mesmo mergulhadores. Já outros grupos, como os peixes cirurgiões (família acanthuridae), se alimentam de algas da mesma forma que as donzelinhas, porém estes não apresentam o comportamento territorialista delas, e ao longo dos milhares de anos de evolução desenvolveram outras estratégias, como a formação de grandes agregações.
Os peixes papagaios (família scarídae) também se alimentam de algas, mais em específico as algas que vivem em associação com os corais (zooxantelas), portanto eles possuem fortes dentes que raspam o substrato e assim obtém energia para realizar suas atividades básicas. É importante ressaltar que os peixes passam grande parte da sua vida se alimentando ou buscando comida, então a alimentação é um fator muito decisivo para a forma como as diferentes espécies vivem. Você pode se perguntar: “e os corais e outros detritos que os papagaios ingerem junto com as zooxantelas?”. Depois desses materiais passarem pelo sistema digestório, eles simplesmente os “devolvem” para o ambiente, porém, com um tamanho bem menor, que costumamos chamar de areia. Pode ser difícil de acreditar, mas esse grupo de peixes é um dos responsáveis pela manutenção dos recifes e o desenvolvimento de estruturas.
Também temos exemplos de peixes que raspam os corais para realmente se alimentar deles, como é o caso de alguns peixes anjo. Pode parecer que não, mas esses grupos podem ser classificados como predadores. Entrando nesse assunto, outro grupo bem interessante são os que caçam ativamente as suas presas, como é o caso das Garoupas (Serranidae). Mas engana-se quem pensa que para predar você precisa de grandes dentes e alta velocidade, existem peixes que buscam ativamente as suas presas de uma maneira mais elegante: os organismos filtradores! E como exemplos clássicos, nós temos as raias mantas e os tubarões baleia.
E não podemos deixar de falar sobre os “Lava-rápido” do fundo do mar, conhecidos como estações de limpeza. São locais onde peixes menores literalmente limpam peixes maiores, em uma linda relação mutualística onde eles obtêm alimentos, enquanto retiram partículas e pequenos organismos que podem ser nocivos a esses peixes. No Brasil temos cerca de 25 espécies que limpam outros peixes, pelo menos durante parte da sua vida. E além dos peixes recifais, outros organismos como as tartarugas marinhas também frequentam as estações de limpeza.
O ambiente recifal é um local com muitas interações e os peixes que vivem ali representam um papel crucial nisso, porém correm sérios riscos. O aquecimento da água do mar representa talvez o maior desses riscos, sendo que é a principal causa do branqueamento dos corais. Sem corais, os peixes que se alimentam diretamente desses organismos também sofrem com a falta de alimento e assim pode ocorrer o desequilíbrio da cadeia alimentar e junto com isso a perda dos serviços ecossistêmicos prestados por eles. Outros fatores que afetam a conservação desses ambientes e consequentemente dos peixes recifais é a destruição de hábitat, poluição marinha e o turismo desenfreado. Este último pode ser um tanto polêmico, porque aparentemente quando geramos renda com uma atividade turística a chance de conservar determinados locais é bem maior e também existe o fato de que as pessoas estão olhando para o que existe ali – como é o caso do aumento do turismo de observação de cetáceos no litoral brasileiro. Porém, isso precisa ser feito de forma ordenada, com instrução e capacitação dos operadores, como ocorre em unidades de conservação, mas que está longe de ser realidade nos principais pontos turísticos da nossa costa.
Por isso é tão importante conhecermos esses ambientes da forma correta! Na próxima vez que fizer um passeio, tente prestar atenção na forma como ele é feito. Atitudes como alimentação de peixes, pisoteio em corais, molestamento de animais (leia-se tirar foto com estrelas-do-mar na mão) e qualquer outra atividade que cause dano direto nos organismos recifais podem e devem ser evitadas!
Feito as ressalvas, considero importantíssimo que as pessoas vejam o que existe embaixo d’água! Seja mergulhando com cilindro, fazendo um passeio de flutuação ou simplesmente colocando o rosto na água com um óculos de natação. Só assim vamos ter um entendimento, como sociedade, que existe um ecossistema diverso, importante e que precisa de cuidados para continuar existindo. Se você tem interesse em conhecer o fundo do mar, nós do Projeto Maui oferecemos cursos e capacitações de mergulho e também temos uma Área de membros online com cursos sobre o ambiente marinho, que você pode acessar pelo link: Área de membros – Projeto Maui, e que tem um curso somente de peixes recifais.
Referências bibliográficas:
BONE, Quentin; MOORE, Richard. Biology of fishes. Taylor & Francis, 2008.
Faxina no fundo do mar. Disponível em: <https://revistapesquisa.fapesp.br/faxina-no-fundo-do-mar/#:~:text=Os%20limpadores%20atendem%20a%20peixes>. Acesso em: 30 maio. 2024.
MORGAN, Kyle M.; KENCH, Paul S. Parrotfish erosion underpins reef growth, sand talus development and island building in the Maldives. Sedimentary Geology, v. 341, p. 50-57, 2016.